sábado, 9 de outubro de 2010

saudade.

sinto falta de cada sorriso
do brilho no olhar
das palavras trocadas
das conversas fiadas
das confissões e histórias detalhadamente narradas
das escritas no quadro da escola
das siglas criadas
tanta imaginação e encanto!
sinto saudade do tempo mais humanamente vivido
dos livros lidos conjuntamente nos intervalos
das trocas de bilhetes
das cartas de amor
das promessas de fidelidade
e de uma amizade eterna
de uma cumplicidade estendidaa cada nova fase da vida
dos cheiros que marcaram minha memória
das cores que embelezaram o caminhar
das músicas que se fizeram trilha sonora de mim
dos amores sonhados

dos sonhos viajados
das viagens sonhadas
e também das realizadas
sinto saudade de quando a vida era menos mecânica
menos automatizada
menos cronometrada
de quando a gente se permitia mais
quando os enfados não eram constantes
quando as dores eram mais marcantes
e a gente sentia mais o impacto de cada mudança ocorrida

agora tudo passa tão depressa
a memória se encurta
as amizades, distantes e ocasionais ficam
a sinceridade, não há tempo para ela
abrir o coração para alguém tem se resumir a 10 minutos
sinto falta das tardes na minha casa
das conversas prolongadas
das madrugadas não dormidas
que acompanhavam muitas gargalhadas


tudo nos consome demais
tudo nos exige demais
tudo se torna menor, mas mais preocupante
dicotomias reveladas
quando a gente cresce
a perspectiva de mundo se transforma
as escalas são redimensionadas
e qualquer desatenção pode representar perdas significativas
e aquela dança de passagem pela casa
e aquela conversa demorada
e aquele entendimento pelo simples olhar
são mesmo suprimidos
virtualidades que destroem tantas virtudes!

eu queria estar mais perto,
voltar no tempo
refazer alguns rumos
reaproximar o que longe está
reaprender a cuidar do que tenho
traçar planos menos pretensiosos
amar mais o que é real
e sofrer menos pelo que é imaginário

eu sinto saudade de quando havia mais tempo para pensar no futuro
um futuro que agora já se materializa
e parece ser tão tarde para certas atitudes...
sinto saudade de não precisar parecer sempre forte
de poder ter tantas dúvidas
tantos possibilidades
de poder errar em certas escolhas
pois ainda haveria tempo para reparar
ainda havia tempo para preparar
saudade de chorar sem medo, por dor e por amor, por tristeza e por alegria, por filme de drama ou por desenho animado
saudade de contar meus segredos e projetos
de revelar sem medo de ser traída
e mesmo que o fosse, de aprender a vida

e agora, tempo passa e ainda tantas incertezas
muitos sonhos escondidos
tantas coisas por realizar
muitas pessoas de quem sinto falta
muitas perdas que parecem irreversíveis
inseguranças sem fim
chão que não sei por onde pisar
amigos que não sei quando rever...

eu gostaria de dizer que realmente sinto saudade, saudade de você.

[em tempo de dizer tanto do que tenho guardado, tanto do que tenho sentido e do que tem me incomodado... em tempo de dizer que amo e que aguardo ansiosamente pelos reencontros que a vida prepara e proporciona matar um pouco de toda essa saudade que me consome, de quem está longe e mesmo de quem está perto, mas poderia estar um pouco mais, e mais intensamente...]

terça-feira, 20 de julho de 2010

Pedra de Amolar

"Aquele que comigo,
quando eu choro, chora
Aquele que comigo dança,
A este jamais direi:
Ora, não me amoles
Porque se como o ferro com ferro se afia
Afia o homem a seu amigo
Isto hoje te digo: Podes me amolar!
Ó Deus, dá que quando entre eu e meu amigo
Houver atrito a ponto de sair faísca de fogo
Que eu não me desaponte porque esse tal
É enviado teu pra que eu não fique cego
Porque cego não vê que sem o esmeril
Se perde o fio, o gume
Quem pode perceber, não perde a comunhão, assume
Estende a mão, aceita
A pedra de amolar"

(Por Roberto Diamanso)


uma homenagem aos amigos querido, presentes em meu tempo-espaço.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

in.verso



na busca intensa por vencer
o ser se esquece de ser
o ter é o maior querer
e sem perceber não se sabe mais onde bater
eu quero o inverso
justamente no perder é que está a glória
quem perde sua vida é que a encontra
e pra viver descubro o que encoberto está
que a cada dia morro um pouco mais
que a cada dia percebo do que não sou capaz
e que qualquer devaneio meu
por mais convincente que para mim seja
não pode apagar a chama que arde
o amor que me salvou de confusa andar
e que minha suficiência consiste no depender
em cada verso
meu mundo inverso precisa de Você.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

essência.


Que o pensamento viajante siga adiante
não retroceda nem estagne
Que a memória não se vá
que a esperança viva a florescer
Que eu não perca a essência
que não deixe de exalar o bom perfume
Que não deixe de enxergar as cores
a beleza infinda do Caminho
Que o embalo não me embale nem abale
Que eu siga no ritmo certo
passo a passo, no tempo e no espaço
sem perder o alvo
Que não se turve o meu olhar
nos giros que dou
ao dançar a vida
nas surpresas que vêm
ao chegar o novo
no despertar de uma manhã.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

sonho.




“- Amanda! Tem um sonho aqui que parece estar maravilhoso! Vem provar!” foram as palavras proferidas por meu pai quando cheguei ontem em casa. Imediatamente imaginei um sonho bem grande, recheado de doce de leite e coberto de grãos de açúcar. Do jeito que eu desejava e não experimentava há tempo! E que me faria não me contentar com apenas um.
Quando fui conferir tamanha foi a minha decepção! Era um mini-sonho, enganando-me com uma pinceladinha de creme que mal alcançava toda a massa. Até comi e não estava tão ruim quanto imaginava, mas fiquei frustrada por não alcançar o objeto de meu desejo tal qual estava em meus pensamentos. Era apenas um sonho...
E isso me fez viajar para bem longe sem que fosse preciso sair do lugar. Eu consigo fazer isso bem! Posso voltar a lugares anteriormente visitados, sentir novamente a brisa nos cabelos, a maresia a refrescar o coração, o cheiro de terra molhada a escorregar em meus pés, o brilho no olhar de quem marca as lembranças e o ressoar das palavras que aquietam a alma. Como é bom abaixar as pálpebras e sinestesiar.
E nessas viagens de ida sem volta vejo-me perdida em um mar de sonhos, tão grandes sonhos que mal cabem em meu pequeno barquinho. Tantas são as águas que banham esses meus sonhos, quantas são as ondas que me impelem a balançar. O vento forte bate no rosto é ele quem direciona para onde vou. Assim como não sei o seu caminho, também não sei aonde vou chegar. Mas é boa essa sensação! Não tenho o controle em minhas mãos, deixo apenas que ele me guie. Ainda que pareça demorar para encontrar repouso, tudo é uma questão de redimensionar pensamentos. Afinal de contas, há maior descanso do que, no percurso desse levar, contemplar a infinitude do azul? Azul do céu, azul do mar, minha esperança a se renovar. O alvorecer da manhã faz aquecer o meu coração. Brilho intenso que ofusca o meu olhar.
Percebo que esse mesmo coração, morada de sonhos, cheio de emoções e livre pra imaginar, criar cenários e neles teatralizar personagens de forma tão lúdica carrega uma incompletude em si. Tão romântico quanto o meu desejo pelo grande recheio de doce de leite, dessa forma ele vive a se frustrar. A esperar e não encontrar. A nem sair do lugar. É então que compreendo que o coração só pode ser feliz quando quieto estiver e, tranquilo, for morada de Deus, para sempre*. Aprendo a contar os meus dias, mesmo em alto mar, sem esquecer de cada momento marcado na agenda do sonho que Ele realiza em mim. O sonho de viver diária, plena e eternamente a beleza da Sua vida em mim.

[*inspirado na letra de uma música do querido Ildebrando Viana]

domingo, 23 de maio de 2010

primeiro passo.

 
O início de tudo, sempre o mais difícil
Não se tem firmeza ainda
Cada passo, uma troca dos pés
Um ensaio de onde se quer chegar
O mais gostoso de tudo é experimentar
É girar
A saia rodar
Deixar a música levar

E nessas an.danças
Caminho pela vida na ponta dos pés
Quero chegar mais alto
Salto contra a gravidade
Sigo na contramão

Te convido para adentrar o meu espaço
Cercado de (falta de) tempo
Mas cheio de cores, de vida, de amor
De sombras e imagens
De sonhos, de realidades
De viagens e paragens
Des.construções

Fique à vontade
Puxe uma cadeira
Aprecie comigo
A singularidade do movimento
A pluralidade do ser
Ouça a canção que soa pelo ar
Sinta o vento que me conduz